Análises e Notícias
O risco de não voltar atrás
“O preço da grandeza é a responsabilidade.” Winston Churchill
O conceito de irreversabilidade é um dos pilares das relações entre pessoas/grupos/Estados, gestão de risco entre outras coisas. Saber se algo é reversível ou não, é importante para que possamos entender vários aspectos da nossa vida e da natureza humana.
“O termo irreversibilidade refere-se à propriedade de um sistema de sofrer alterações que o leve de um estado inicial A para um estado final B, sem a possibilidade de regresso ao estado inicial, mesmo alteradas as causas da transição inicial. Nestes termos, processos que exibam simetria temporal são reversíveis, processos que impliquem assimetria temporal são irreversíveis.”
Na ótica do ESG (Environmental, Social and Governance), existe uma linha de pensamento no qual muitos investidores estão marginalizando companhias e setores nesta matéria. O dilema aqui é que as empresas que estão no centro das mudanças dependem direta ou indiretamente destes setores e que a falta de suporte dos investidores e da sociedade é prejudicial a todos.
Uma empresa produtora de cobre consegue extrair o produto sem impacto ambiental nenhum? Não. É possível fazer um carro elétrico e baterias sem cobre? Não. Ou seja, carros elétricos também têm impacto ambiental, mas são indiretos. Se entrarmos na discussão de quem é a reponsabilidade pela descarte/reciclagem de baterias veremos que mitigar totalmente efeito ao meio ambiente não é uma tarefa simples.
Ao debatermos o aquecimento global vamos encontrar pessoas que concordam e outras não sobre os efeitos do CO2 e outros gases no efeito estufa. Pouco me interessa quem está certo, mas quem advoga sobre não ter evidências sobre o aquecimento global pode dizer que as mudanças são reversíveis e a que preço? Por isso não é uma questão de estar certo ou errado, e sim de não correr o risco de estar errado. Prevenir tem um custo infinitamente menor do que reparar e em alguns casos os danos são irreparáveis.
Mesmo correndo o risco de ser repreendido, minha visão sobre ESG é pragmática. Algumas empresas vendem a imagem que são socialmente responsáveis, no entanto, não é apenas colocar painéis solares e dizer que são “carbon neutral” que as transformam em companhias responsáveis. O que podemos dizer de empresas que fazem planejamentos fiscais agressivos deixando de pagar bilhões em impostos? Isso querendo ou não tem tanto impacto na sociedade quanto uma empresa que explora recursos naturais.
O ESG antes de tudo é uma mudança de atitude/direção. Danos irreparáveis ao meio ambiente ou sociedade são intoleráveis, mas mudanças não vão ocorrer da noite para o dia. Os acionistas e consumidores podem e devem pressionar os executivos e conselhos de administração por melhores práticas, mas têm que entender que isso tem um custo e que ter equilíbrio é bom à ambos.