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O mundo deflacionário de Bezos
Jeff Bezos talvez seja o melhor CEO da nossa geração. Após o anúncio de sua aposentadoria, acho interessante compartilhar alguns pensamentos sobre o impacto dele na sociedade.
Desde a fundação, a Amazon tem um mantra: a satisfação irrestrita do cliente cria recorrência de compra e para tal deveriam ter preços baixos e altíssimo nível de serviço. Foi uma das primeiras companhias com a ambição de ter o consumidor como centro e foco do seu negócio.
Se fizermos uma enquete sobre porque as pessoas compravam pela internet há 5 anos, talvez o preço fosse o principal atributo, hoje talvez seja a comodidade. A Amazon pavimentou essa via e o resto do comércio eletrônico seguiu seu caminho.
A experiência do consumidor começa no site e vai até o momento em que o produto chega em nossas casas. ara isso o trabalho de remover cada “pedra” no caminho foi feito com esse objetivo. A questão é que, ao fazer isso, a Amazon criou padrões notáveis de produtividade, melhorando dia após dia a qualidade, desde a experiência de compra até a sua entrega.
A produtividade é uma força motriz do crescimento econômico e o repasse destes ganhos para o consumidor proporcionou um efeito deflacionário. Existem alguns fatores externos que contribuíram para a velocidade que isso ocorreu: após a crise de 2008, o excesso de liquidez no mundo moldou um tipo novo de investidor: o que é focado exclusivamente no crescimento.
O que o fundador pregava na sua primeira carta aos investidores em 1997 faz mais sentido agora do que no momento da fundação da empresa. Para Bezos, contanto que a empresa tenha um fluxo de caixa saudável, vale a pena investir o máximo possível no crescimento.
Não dá para estimar o efeito que esta busca incessante por economias de escala foi para economia global, mas foi grande. Uma parte do consumo que era feito em lojas físicas hoje está no mundo virtual. Em algumas categorias a loja física virou um jogo de nicho: ir a uma livraria é um “evento”, uma experiência sensorial e não de compra necessariamente.
A economia de tempo e recursos do e-commerce é enorme. Empresas como a Amazon sabem suas preferências, frequência de compras e entendem como ninguém sobre a elasticidade de preços. Conseguem prever e gerir eficientemente os estoques e a logística de várias cadeias produtivas.
Essa é uma fórmula multiplicada em outras cadeias além do varejo. No setor de serviços temos por exemplo o AirBnB, que proporciona a proprietários e pequenos investidores que sejam “donos” de hotéis. Já o Uber atacou a indústria de táxis, o Netflix as locadoras e cinemas, a computação em nuvem desintermediou a gestão de hardware e por aí vamos.
Cada ramo que a internet e a tecnologia encontram aplicação, é causado um efeito deflacionário pois os modelos de negócio de hoje em dia são baseados primordialmente em escala e alavancagem operacional.
Um dos grandes desafios dos formadores de políticas públicas e economistas é criar fórmulas para que parte da liquidez do mundo flua para ativos reais, como por exemplo o setor de infraestrutura. Verdade seja dita, a alavancagem financeira tem limites muito mais restritos do que alavancagem operacional.
Enquanto vivermos em um mundo no qual os juros são baixos e os investidores tolerarem trocar um fluxo de caixa hoje por um maior no futuro não vemos essa força deflacionária se alterar . O mais irônico de tudo isso é que os juros zero, ao invés de contribuir para o aumento da inflação, tiveram o efeito inverso.